quarta-feira, 14 de julho de 2010

Beatriz Milhazes

Beatriz, que está entre o seleto grupo da coleção Chateaubriand, revelou-se no período do movimento brasileiro conhecido como "Geração Oitenta", que tem como característica a pesquisa de novas técnicas e materiais e é conhecido pelo "espírito hedonista", expresso por fortes pinceladas e cores vibrantes. Juntamente com Adriana Varejão, é também uma das brasileiras que tiveram maior exposição no palco internacional no início da década de 90 e atualmente integra acervos de museus como o MoMa, o Metropolitan e o Guggenheim de Nova York.
Milhazes também foi uma das artistas escaladas para a programação cultural paralela que aconteceu na Alemanha em 2006, antes e durante os jogos do Mundial, e a única sul-americana convidada para fazer um dos 14 cartazes oficiais da Copa - o "Maracanã". "Eu me apeguei à bola de futebol tradicional e com ela criei um eixo central para a composição. Em torno dela, desenhei cinco anéis, cada um representando um país em seu continente. Desse eixo, formas de arabescos compõem um tipo de 'dança' sobre a superfície do papel. Uma espécie de 'bailado sobre o verde'", disse Beatriz.
Portanto, num momento em que o mundo 'embriagou-se' pelo 'baile do futebol' na África, pareceu-me oportuno falar sobre o trabalho desta artista que tem a dança como uma fonte de inspiração.
Beatriz já produziu vários cenários para a coreógrafa Márcia Milhazes, sua irmã, e declarou que os alvos circulares de movimento constante das valsas são uma marca em suas pinturas.
A sua produção, porém, vai muito além disto e, no afã de desvendar a sua arte que tanto me comove, deparei-me com referências que frequentemente recorro por conta de minhas pesquisas, o que justifica o meu fascínio confesso pela obra dessa pintora.
O repertório de imagens de Beatriz é vasto e são inegáveis os elementos da cultura brasileira na explosão de cores das telas que ora apresentam motivos da fauna e flora, do carnaval, da arte popular, de rendas, de bordados e tecidos, da joalheria ou mesmo da arquitetura do Brasil - com referência à obra de Roberto Burle Marx. "Cor é vida", como escreveu um dos teóricos da Bauhaus, Johannes Itten, e nisso ela mostra-se uma expert, quando transfere todos estes símbolos e matizes para suas obras.
Na pintura nacional, ela recorre aos modernistas, como Tarsila do Amaral ou ainda Guignard, de onde vem a sua relação com o Barroco, suas sinuosidades e ornamentos; na internacional, é inevitável a tentação de compará-la a Matisse e Mondrian. "O que existe nas minhas pinturas é uma conversa entre padrões, porque cada um dos motivos é uma forma autônoma". A tinta é decalcada de moldes de plástico que ela constrói, mas "nada está definido até o final", numa técnica similar à fase de 'cortes e recortes' de Matisse. Aliás, com este, Beatriz mantém ligações mais profundas como a de colecionar pedaços de tecidos, revistas, cartões-postais e desenhos, que estão espalhados pelas paredes de seu estúdio situado em meio à natureza, com janelas para o Jardim Botânico no Rio de Janeiro.
Ela demonstra ainda uma forte relação com a moda: com os estilistas Emilio Pucci, famoso por suas estampas poliédricas, e Christian Lacroix, com quem compartilha a grande paixão pelos tecidos pintados e cores ousadas.
O que surpreende em sua obra, entretanto, é a facilidade e delicadeza com que transita entre este caleidoscópio de referências e funde-o nas telas, transformando-o em véus, decotes, jóias, movimentos e adornos de roupas, flores e imagens multicoloridas ao estilo déco e ao mesmo tempo barroco numa atmosfera de sonho e completa sedução, deixando seus observadores estupefatos diante de caminhos e labirintos a serem percorridos e desvendados, num verdadeiro exercício que explora o passado e o contemporâneo.



Avenida Brasil, 2003/2004


O Diamante, 2002


The man you met here at my loft who I traveled..., 1993


Rio de Janeiro, 1993/1994


Óleo e madeira pintado à mão, 1993/1994


A Lua e o Mundo, 1996


Os Três Músicos, 1998